Senhor,
o amor é uma coisa que mete medo
não
sabeis pois que se trata de um trabalho difícil
exige
uma coragem e uma fé além do improvável
uma
humanidade indizível
uma
fraternidade cega
dinheiro
e garrafas
crianças
ao acaso
olhares
nem sequer fulminantes
e
charcos de céu
e
festas campestres
quando
o tempo permite
o
amor quer idas à pesca, patins e chocolate negro
o
amor quer a curva suave e a facilidade
é
tão difícil, Senhor
não
poderia descrevê-lo
em
toda a sua volúpia
para
lá dos seus mártires
e
dos seus desastres hipócritas
o
amor é pleno de alegria
e
segue o seu caminho
na
névoa dos primeiros passos
na
roupa pendurada no inverno
na
corda tensa
vai
para onde calha
e
muito lentamente
lentamente
demais o amor segue
como
um ouriço do mar oco cheio de areia
como
um botão que se deixa por coser
é
miserável
é
uma pluma
move-se
ao vento
quando
o coração bate
é
esplêndido lavado pela maré
mesmo
na maré odiosa
é
onda
e
é belo
é
onda e é belo e cheio de algas
é
o silêncio
é
a luz
uma
coisa assim vulgar.
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