Quando
um homem pega numa fruta e a leva à boca
Há
sempre um polícia que diz “alto aí!, pois essa é do patrão”
O
malefício de algumas víboras é mesmo isso:
Fuzilam-te
com o olho direito.
Mas a
desgraça não pára aqui:
Sempre
que um homem tenta dizer uma certa palavra
Morre
enquanto pronuncia a letra A
(uma
bomba explode no meio do alfabeto).
E
porque não havia de ser assim
Se o
mínimo que de uma barata se ouve dizer num parlamento
É que
ela vai ser a cantora eleita?
Por
isso continuo a jurar que de todos os músicos
Prefiro
aquele que se senta ao piano e diz que é surdo.
E
quando me dão a escolher entre um cavalo e uma bicicleta
Fecho
os olhos e escolho um caracol.
E
depois, como não sei que fazer desse animal,
Fico
parvo a olhar para ele.
Pois é:
um caracol (assim como um soneto)
Será
sempre uma máquina estupidamente lenta
No meio
d’automóveis que dão tantos à hora.
O olhar
de Deus contempla a minha cidade.
Porém,
não há estátua que preste na minha cidade.
Arménio vieira é um poeta de Cabo Verde.
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