Criticas ao velho Clube dos Poetas Mortos


      Há dois equívocos no filme: um é que a obra dá a entender que a "poesia é apenas emoção, uma emoção anti-razão, uma emoção não filtrada pelo intelecto. É como se a poesia fosse sinónimo de sinceridade, de pureza, de mera inspiração não conspurcada pelo trabalho intelectual. É como se escrever consistisse apenas no abrir da corrente de pensamento, é como se escrever não fosse um lento garimpar das palavras. Outro é que nela se "proclama o império da criatividade sobre o trabalho disciplinado, sobre a memória, sobre o conhecimento."

      Henrique Raposo, cronista do jornal Expresso

    "Penso que Henrique Raposo só agora percebeu estes dois equívocos porque, apesar de terem "barbas brancas", nos anos oitenta e noventa do passado século, na altura em que o filme foi visto por toda a gente, eles estavam no seu apogeu. As antinomias: "ensino versus aprendizagem" e "criatividade versus memória", ou, por outras palavras, os alunos "só aprendem se não forem ensinados" e "só criam se não tiverem conhecimentos" eram dois lemas (melhor, dogmas) "pedagógicos" completamente infiltrados no pensamento social. Não se pensava fora destes deles. E se alguém ousasse fazê-lo era imediatamente advertido da inconveniência da sua atitude. Ainda hoje é assim, aliás. Sobretudo se falamos de poesia".
      Mas para que o alunos manifestem as suas potencialidades criativas, diz, e diz bem, Henrique Raposo, "é preciso um trabalho de apreensão de conhecimento, de memorização, um trabalho que requer humildade perante o mundo exterior ao eu".

      Dra. Maria Helena Damião


































      Para mim John Keating é uma referencia pelo modo como incentiva e faz com que os seus alunos acreditem neles próprios. É certo que "agricolare agricolice, agricolare agricolice" pode ser preciso; o célebre capítulo 'Compreender Poesia' de Dr. J. Evans Pritchard pode ser referência, mas mais importante é o fermento que vai criar o pão.
      Na cena que 'printscreenei', um dos alunos, o Anderson, não fez o trabalho de casa que consistia em criar um pequeno poema, e o professor Keating leva o aluno encontrar o "stream of consciousness", o seu "well of creativity".
      Uma vez li, que só se deveria fazer arte a partir dos 50 ou 60 anos. Talvez por isso, consumimos livros e não escrevemos livros; vamos a exposições de pintura mas não pintamos; compramos música mas não a criamos. O filme não é inocente e o capital sabe bem porquê.  

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